É de Lei recomenda: O que é Redução de Danos?

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O que é Redução de Danos?

 por Maria Clara Gaiotto e Matheus Ramos

 

Há algum tempo vem se comentando bastante sobre o termo “Redução de Danos”, quase sempre ele vem associado à consciência da necessidade de tomar água quando se ingere álcool ou alguma outra substância dentro do contexto de festa. Mas, você conhece outras ações que a RD abrange? Ou como ela surgiu?

Um dos principais marcos para a Redução de Danos se deu na Holanda. A “Junkiebond” uma associação de usuáries de drogas, preocupada com o alto contagio por hepatite, causado principalmente pelo compartilhamento de seringas no contexto das drogas injetáveis, reivindica uma ação afirmativa do governo, em 1984 inicia-se o primeiro programa de troca de seringas em Amsterdã.

Nessa mesma década ocorre o primeiro seminário mundial sobre AIDS, aqui no Brasil, em Santos. A ideia da troca de seringas foi discutida, porém a ação foi embargada alguns meses depois. No ano de 1995 ela é realizada na Bahia através do Centro de Estudos e Terapia de Abuso de Drogas da UFBA. Somente depois disso a Redução de Danos passa a ser reconhecida como uma política de saúde pública. É importante ressaltar que mesmo antes desse reconhecimento, diversas organizações brasileiras já atuavam dentro das práticas da Redução de Danos, o Centro de Convivência É de Lei, por exemplo, já realizava a troca de seringas no contexto da cidade de São Paulo.

A Redução de Danos é uma política antiproibicionista e antipunitivista que visa principalmente construir informações em conjunto com usuáries, criando um espaço de acolhimento e diálogo. Também tem como objetivo realizar ações para reduzir seus riscos e danos em relação ao uso de substâncias diversas, incentivando o (auto)cuidado e a troca de conhecimentos. A ideia principal se faz no ato do acolhimento ao invés da punição, pensando o uso de drogas a partir das pessoas e seus respectivos contextos e não somente pela substância em si.

Sabendo disso é necessário entender que a relação com as drogas não passa somente pela dependência, e que a redução de danos tem muita relação com atendimentos humanizados e integral com as diversidades, sendo um cuidado para além do advento das drogas, se faz como um processo e não uma resposta pronta, não tem uma fórmula estabelecida, é singular, uma construção coletiva de práticas e saberes.

Ao fazer parte de coletivos e entidades que trabalham com redução de danos, entendemos que a prática vai além dos indivíduos, essa prática anda de mãos dadas também com a militância por políticas públicas que entendam que a dificuldade de quem faz uso de substâncias está principalmente nos estigmas sociais a que são submetidos e na problemática das ações e organizações institucionais e estruturais. Ou seja, como ele é visto e o que se faz a respeito.

Ficamos no limite entre os âmbitos da política e da técnica. Nós trabalhadores das redes de saúde e social temos a necessidade de ocupar papeis políticos, para ajudar na construção de ações e políticas que incluam os saberes das usuárias e usuários dos serviços, lutando em conjunto para que possamos garantir a participação nos mesmos. Os saberes técnicos são importantes para compreender os efeitos das substâncias, formas de usos, sintomas relacionados com problemas de saúde afim de orientar e cuidar com as devidas competências.

A redução de danos deve levar em consideração principalmente os sujeitos das situações. Ela é construída a partir de uma relação sem julgamentos morais, respeitando e valorizando a pluralidade de princípios e o espaço do outro. A redução de danos é feita a partir da potência da troca entre usuáries, trabalhadores e serviços.

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