A partir da grande repercussão sobre a morte de um jovem gay cis após sair de um espaço de entretenimento adulto no centro da capital paulista, nós, do Centro de Convivência É de Lei, entendemos a urgência de discutir a importância da redução de danos em contextos de festas como uma estratégia que visa o autocuidado, a responsabilização e o cuidado público e coletivo.
Este não foi um fato isolado e a discussão vem junto a outros casos que têm acontecido na região. O Projeto ResPire, que é a frente de atuação em contextos de festas do É de Lei, atua há mais de 13 anos com redução de danos e, desde então, tem acumulado experiências em seu trabalho de acolhimento, infostand e testagem de substâncias. Essas são estratégias que procuram ampliar a autonomia das pessoas que frequentam festas, sejam elas de cunho sexual ou não (aliás, qualquer festa pode ter interação sexual, né?).
Temos observado, a partir do nosso trabalho de campo, uma preocupação bastante legítima, tanto das pessoas que frequentam esses espaços quanto de quem organiza festas, em pautar a redução de danos nesses ambientes, partindo do diálogo e escuta dessas demandas, que envolvem sexo, drogas e festas. Mais do que isso, como as festas podem se preparar para acolher casos complexos, como estes que temos acompanhado pela mídia.
A redução de danos em contextos de festas é um espaço de produção de práticas ampliadas de saúde, que compreende desde a equipe de recepção até a gerência da festa. Sabemos que não é um assunto fácil, pois as pessoas têm compreensões diferentes sobre uso de drogas. E quando contextualizado para corpos negros, LGBTQIAPN+, sobretudo, trans e travestis, a vulnerabilidade aumenta, gerando mais estigma e discriminação.
Assim, nos colocamos à disposição para colaborar com espaços de festas que estejam interessadas em redução de danos, e também na qualidade de vida das pessoas que frequentam essas festas como um espaço legítimo de arte, cultura, lazer, turismo, e também de promoção da saúde mental.