Dia 18 de maio é o dia da Luta Antimanicomial, dia que marca o movimento social inspirado pela Reforma Psiquiátrica, cuja principal diretriz é o cuidado em liberdade das pessoas em sofrimento mental. A princípio a Reforma Psiquiátrica se concentrou em denunciar os maus tratos que ocorriam dentro dos manicômios e procurou derrubá-los, mas hoje ainda é preciso enfrentar a disputa entre o modelo de cuidado na rede de atenção psicossocial e o modelo das internações, expresso na permanência de hospitais psiquiátricos e do convênio que o poder público vem fazendo com as comunidades terapêuticas.
Sabemos que o alvo das comunidades terapêuticas são usuários de drogas, pessoas muitas vezes convencidas ou obrigadas a fazerem um tratamento pautado no isolamento, focado na abstinência e na ideia de que a droga é a causa de todo o problema. Todos vivemos uma experiência recente na pandemia onde foi possível perceber na pele que o isolamento não produz saúde mental, pelo contrário. São os vínculos, as atividades, o trabalho, tudo aquilo que podemos fazer em grupo que nos sustentam na vida. Se a ideia é que a droga perca a relevância, o que conseguimos com uma internação é absolutamente seu avesso: o foco fica todo nela, pois mais nenhum aspecto da vida pode ser vivenciado em isolamento.
A relação entre a luta antimanicomial e a Redução de Danos fica evidente neste ponto, pois ambas prezam pela autonomia e protagonismo do sujeito em seu processo de cuidado. Mas não é só quando um usuário de drogas em situação de vulnerabilidade tem seus problemas reduzidos às orações que deve fazer na comunidade terapêutica que observamos uma prática manicomial. Quando a especulação imobiliária, os interesses políticos e econômicos na região da Cracolândia violam os direitos dos usuários de drogas, quando equipamentos públicos deixam de fazer seu papel, quando os sujeitos não estão mais em manicômios, mas estão impedidos de circular pelos espaços públicos, ou quando não estão mais em manicômios, mas estão em prisões, a lógica manicomial está operando.
Contra toda forma de exclusão, pelo cuidado em liberdade, acolha! Não puna.