A atuação da segurança pública no centro de São Paulo tem sido intensificada desde 2020, quando a violência policial aumentou na região da Cracolândia e serviços de saúde e assistência social foram fechados. Com a pandemia de covid-19, a crise sanitária vulnerabilizou ainda mais o território.
Diante disso, o Centro de Convivência É de Lei, em parceria com o International Drug Policy Consortium (IDPC), realizaram a pesquisa “Policiamento, covid-19 e pessoas que usam drogas: sobrevivendo à polícia na Cracolândia”, lançada no começo de março, em português, inglês e espanhol.
A pesquisa tem como foco compreender as dinâmicas de violências no território da Cracolândia durante a pandemia de covid-19, a partir de relatos de pessoas diretamente afetadas pela política de drogas.
Nela, é possível encontrar um breve histórico da formação dessa região chamada Cracolândia e o que foi feito ali nos últimos anos, um diagnóstico a partir de entrevistas e recomendações.
Um dos principais resultados da pesquisa foi a importância da Redução de Danos, que apareceu em quase todas as entrevistas como uma lógica de sobrevivência, para além de simplesmente uma estratégia de saúde ligada ao uso de substâncias. A atuação em rede, a ajuda mútua, a luta por direitos e a atuação entre pares foram questões frequentemente citadas que nos mostraram a importância da presença de organizações da sociedade civil e movimentos sociais no território.
Em relação às abordagens policiais, foi observado que, se por um lado, elas acontecem independente da pessoa estar trabalhando, usando droga, acessando um serviço etc. por outro, existe um denominador comum a quem as violências são apontadas: são pessoas pobres, negras, LGBTQIAPN+, com um histórico de acesso limitado a direitos básicos, como saúde, educação e moradia.
A tentativa de criminalizar essas pessoas em situação de vulnerabilidade que vivem na Cracolândia é uma das formas que o Estado utiliza para silenciar e evitar que ouçam a voz e reconheçam o protagonismo dessas pessoas no território.