ONGs escrevem ao Parlamento Europeu sobre o avanço do autoritarismo no Brasil
Prezados membros do Parlamento Europeu,
As organizações sociais brasileiras aqui signatárias vem por meio desta agradecer o posicionamento conjunto dos 68 eurodeputados, enviado no último dia 26 de novembro ao governo brasileiro. O apoio de parlamentares europeus é de fundamental importância à sociedade civil do Brasil, que se encontra em um grave cenário, em especial nos últimos dois anos.
Viemos também apresentar a perspectiva de um amplo espectro de organizações sociais, presentes em todo o Brasil, que atuam nas mais variadas agendas. Perspectiva essa que contradiz o posicionamento feito pelo vice-presidente da República e presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal, Hamilton Mourão, na carta aberta enviada ao Parlamento Europeu, por ele, no dia 27 de novembro de 2020.
A atual gestão do governo federal, da qual o vice-presidente é figura central, que se elegeu afirmando “acabar com todo o tipo de ativismo no Brasil” e se lamenta por “não conseguir matar esse câncer chamado ONG”, publicou no primeiro dia de mandato em 2019 a Medida Provisória 870 que, entre outras, permitia ao governo federal “supervisionar, coordenar, monitorar e acompanhar as atividades e as ações dos organismos internacionais e das organizações não governamentais no território nacional”. Apresentada de forma genérica, a medida autorizava a ingerência do governo sobre as organizações sociais e foi, felizmente, rechaçada pelo Congresso Nacional graças ao trabalho das entidades sociais e de diversas lideranças e partidos políticos.
Membros do alto escalão do governo federal recorrentemente fazem acusações infundadas e irresponsáveis a prestigiosas organizações e lideranças sociais, como quando as acusaram de atear fogo em florestas, derramar petróleo no litoral brasileiro e atentar contra a segurança nacional pelo simples fato de criticar o governo na comunidade internacional. A Advocacia Geral da União foi usada diversas vezes para perseguir ambientalistas, jornalistas e cientistas críticos ao governo. Chegaram ao ponto de enviar espiões à Conferência do Clima – COP 25 para monitorar ambientalistas brasileiros. Foram tantos os ataques à sociedade civil nos últimos dois anos, que anexamos a esta carta um clipping compilando grande parte delas.
É dentro deste contexto que vemos com preocupação a divulgação de qualquer medida que permita ao governo federal restringir a autonomia da sociedade civil brasileira. A carta-resposta enviada pelo vice-presidente aos senhores é contraditória. Alega que o governo não tem nenhuma intenção de restringir ou controlar as organizações da sociedade civil que estejam trabalhando “legalmente” na Amazônia, mas afirma, sem maiores explicações, que pretende melhorar o “arcabouço institucional” para promover uma interação mais “coordenada e organizada” da sociedade civil com o governo brasileiro. Em outras palavras, promover maior controle. A relação entre entidades sociais e o Estado já é regulada e respaldada pela Constituição Federal e pelo Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil.
A medida se baseia em uma suposta “insegurança, informalidade e falta de informação que dificultam o trabalho nas regiões amazônicas”, isso após atacar institutos de pesquisas federais como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e enfraquecer o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA), principal responsável pela implementação da política nacional de meio ambiente.
Os ataques às liberdades de organização, expressão e imprensa, às instâncias de participação social e aos mecanismos de transparência e controle social tem impacto direto não só no enfraquecimento da democracia brasileira, mas também em nossa capacidade de preservar o meio ambiente e garantir os direitos humanos de grupos minorizados, vistos como inimigos do governo, como é o caso das populações originárias e tradicionais.
Por isso, as organizações abaixo listadas pedem ao Parlamento Europeu que ajude a reverberar internacionalmente a situação da democracia no Brasil e apoie as denúncias e ações apresentadas pela sociedade civil brasileira a órgãos multilaterais sobre violações de direitos humanos e liberdades democráticas por parte do governo federal.
Assinam:
- ABI – Associação Brasileira de Imprensa
- Ação Educativa
- Aliança Nacional LGBTI+
- All Out Brasil
- APIB – Articulação dos Povos Indígenas do Brasil
- Apremavi
- Artigo 19
- Ashoka
- Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo
- Atados
- BV RIO
- Centro de Convivência É de Lei
- Centro de Trabalho Indigenista – CTI
- Climainfo
- Conectas Direitos Humanos
- Delibera Brasil
- Educafro Brasil
- Engajamundo
- FOAESP – Fórum das Ong Aids do Estado de São Paulo
- Frente Favela Brasil
- Fundação Avina
- Fundação Grupo Esquel Brasil
- Fundação Tide Setubal
- GELEDÈS – Instituto da Mulher Negra
- Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero
- Greenpeace Brasil
- Grupo de Trabalho da Sociedade Civil Para Agenda 2030
- IAB – Instituto dos Advogados Brasileiros
- ICLEI – Local Governments for Sustainability
- ICV – Instituto Centro de Vida
- IDDD – Instituto de Defesa do Direito de Defesa
- IDS – Instituto Democracia e Sustentabilidade
- IDSB – Instituto de Desenvolvimento Sustentável Baiano
- IEB – Instituto Internacional de Educação do Brasil
- IEB – Instituto Internacional de Educação do Brasil
- Imaflora
- Instituto 5 Elementos – Educação para a Sustentabilidade
- Instituto Alana
- Instituto Cidade Democrática
- Instituto Cidades Sustentáveis
- Instituto de Referência Negra Peregum
- Instituto Ethos – Empresas e Responsabilidade Social
- Instituto Igarapé
- Instituto Não Aceito Corrupção
- Instituto Nossa Ilhéus
- Instituto Physis – Cultura e Ambiente
- ISA – Instituto Socioambiental
- Instituto Update
- Instituto Vladimir Herzog
- IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas
- Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais
- Movimento Mapa Educação
- MTST – Movimento dos Trabalhadores Sem Teto
- Nova Central Sindical de Trabalhadores – NCST
- Observatório do Clima
- Ocupa Política
- Open Knowledge Brasil
- Oxfam Brasil
- PHS – Projeto Hospitais Saudáveis
- Projeto Saúde e Alegria
- RBdC – Rede Brasileira de Conselhos
- Rede Conhecimento Social
- Rede Justiça Criminal
- SPVS – Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental
- TETO Brasil
- Transparência Brasil
- UNE – União Nacional dos Estudantes
- Uneafro Brasil
- WWF – Brasil
- 342 Amazônia
- 342 Artes
- 350.org